Cristina Maria Garcia de Lima Parada

Cristina Maria Garcia de Lima Parada, coordenadora de enfermagem da CAPES, pesquisa saúde materno-infantil

Por Vitória Régia da Silva

A enfermeira e pesquisadora Cristina Maria Garcia de Lima Parada é a coordenadora da área de enfermagem da Capes desde 2018 e uma das referências em estudo da saúde materno-infantil. Dos 49 coordenadores de áreas da Capes, Parada é uma das 14 mulheres que ocupam esse posto. Pesquisadora e professora  do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Botucatu, a paulista atua na área de saúde da mulher e da criança.

“Eu pesquiso a saúde da mulher, com foco no atendimento pré-natal e na consulta de enfermagem em ginecologia, principalmente dentro do universo da  saúde pública. Essa aproximação com o tema da saúde materna me acompanha desde sempre, tanto do ponto de vista de pesquisa na universidade quanto de prática, com a extensão de serviços e assistência à comunidade”, explica.

Também coordenadora do grupo de pesquisa Saúde da Mulher, Criança e Adolescente (Samuca) na Unesp, sua principal linha de pesquisa aborda o processo do cuidar em saúde e enfermagem, com foco na assistência pré-natal. “Eu tive o laboratório em um momento em que enfermeiro não fazia o pré-natal, então foi um momento de desbravar essa área e mostrar que tínhamos competência para isso. Por isso, foi importante formar os alunos da graduação e os residentes para essa atuação específica.”

Na pesquisa mais recente “Saúde da Criança no primeiro ano de vida: estudo de coorte prospectiva em município paulista”, em que a pesquisadora integra um grupo que acompanha mães e crianças nascidas em duas maternidades (uma pública e outra privada de Botucatu) do parto até o término do primeiro ano de vida da criança, foram analisados os efeitos da cesárea eletiva, do aleitamento materno e a atenção à saúde dos recém-nascidos. O estudo de coorte é uma metodologia em que o pesquisador observa e analisa a relação entre fatores de risco em grupos da população.

Depois da conclusão da primeira fase, a pesquisadora pretende fazer novos segmentos do estudo e continuar acompanhando essas mães e crianças em outros momentos da vida, de cinco em cinco anos, para monitorar e atualizar os dados. “A intenção é segui-las ao longo da vida, de forma que possamos acompanhar esse grupo de crianças em cada momento, com um foco determinado de estudo”, conta.

Uma outra linha de pesquisa em que atua é a avaliação dos sistemas de saúde, na área de saúde coletiva. Com a pesquisa “Vigilância à Saúde Materno-Infantil em Região do Interior Paulista”, investiga e avalia as maternidades dos municípios paulistas. Foi por meio dessa pesquisa que, com financiamento do Ministério da Saúde, fez capacitação de enfermeiros voltada à redução da mortalidade materno-infantil em estados do Norte e Nordeste do país, como Maranhão e Tocantins.

Devido ao seu extenso trabalho, a pesquisadora ostenta premiações da área, como o primeiro lugar do Prêmio Relato de Pesquisa da Associação Paulista de Saúde Pública, em 2017, e o Prêmio de Melhor Trabalho de Pesquisa, da Sociedade Brasileira de DST, em 2016. Além disso, foi finalista do Prêmio SUS 2009, do Ministério da Saúde.

Diferença de negros e brancos na docência

Parada foi uma das primeiras professoras do curso de enfermagem, na faculdade de medicina da Universidade Estadual Paulista, onde já é docente há mais de vinte anos. No terceiro ano depois da criação do curso de enfermagem, ela foi contratada. Desde então não saiu mais de lá. “Eu acompanhei todas as turmas de graduação do departamento, dei aula para todos os enfermeiros formados na Unesp”, diz a pesquisadora com orgulho. Em 2006, ela e um grupo de professores do departamento encaminharam a proposta da criação do programa de pós-graduação, que foi aprovado pela Capes.

A pesquisadora que nasceu em São José do Rio Preto fez graduação em Enfermagem e Obstetrícia na Universidade de São Paulo (USP), especialização em Enfermagem Obstétrica e Obstetrícia na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo. Segundo ela, a docência sempre foi seu sonho: “Eu sabia que não importava qual área que eu fosse, eu seria professora, por isso, a motivação inicial  foi muito mais pela carreira de professora do que pela de enfermeira”, pontua.

“Durante a graduação, eu tive muita identificação com a área, e coincidiu que no ano em que eu estava formando abriu o Caism, o Hospital da Mulher na Unicamp. Prestei o concurso e passei antes de ser inaugurado, o que possibilitou que eu contribuísse com a montagem do serviço. Foram quatro anos no hospital, trabalhando primeiro na enfermaria e depois da especialização, no ambulatório de obstetrícia. Nesse ambulatório era realizado o atendimento pré-natal, foi assim que me aproximei da área”, relembra a pesquisadora.

Na enfermagem, a maioria são mulheres.“Eu não vivenciei e nem vi desigualdades de gênero. As bolsas de produtividade e pesquisa são imensamente das mulheres nesse campo”.  Ela ainda destaca ter sido orientada por uma mulher durante a pós-graduação, a  Profª Dra Nilza Teresa Rotter Pelá. Pelá foi decisiva para a sua decisão de trabalhar com saúde da mulher.

Na análise racial da área, negros têm menos oportunidades que os brancos, avalia a pesquisadora. Ela pontua que com as políticas de cotas raciais, destinadas a pretos, pardos e indígenas, a Universidade, tem mudado aos poucos o perfil dos alunos, tornando os espaços acadêmicos mais inclusivos. “Há muito mais pessoas brancas do que pardas e pretas tanto no meu departamento quanto na enfermagem brasileira”, destaca Parada. “Eu me autodeclaro como parda e sei que tem pouca gente como eu na Unesp. Por exemplo, da última vez que eu estava em uma reunião da congregação, só estávamos eu e mais um outro professor que se autodeclara como pardo também, todo o grupo além de nós era branco.”

Cristina Maria Garcia de Lima Parada
UNIVERSIDADE DE DOUTORADO
Universidade de São Paulo
ÁREA DE PESQUISA MAIS RELEVANTE
Enfermagem
TÍTULO DA PESQUISA
Avaliação da assistência pré-natal e puerperal desenvolvidas em região do interior do Estado de São Paulo em 2005
ONDE VIVE
Botucatu (SP)
O QUE NÃO PODE FALTAR NA CIÊNCIA BRASILEIRA?
Valorização e financiamento. “A ciência brasileira e a pesquisa científica acontecem na universidade. Se não valorizarmos, respeitarmos e financiamos nossas pesquisas, a produção científica brasileira vai decair de uma forma gritante.”