Angela Terezinha de Souza Wyse

Angela Terezinha de Souza Wyse, a cientista que investiga os fatores de risco para doenças cerebrais e cardíacas

Por Vitória Régia da Silva

No Laboratório de Neuroproteção e Doenças Neurometabólicas (UFRGS), ela busca conexões como menopausa e Alzheimer

Na primeira semana da graduação de Enfermagem e Obstetrícia na Universidade Federal do Rio Grande (FURG), a gaúcha Ângela Terezinha de Souza Wyse se apaixonou por bioquímica. Por isso, já no primeiro semestre da sua faculdade decidiu que seria professora da área, o que a motivou a continuar os estudos e fazer mestrado e doutorado em bioquímica. Atualmente uma das maiores referências da sua área, é uma profissional realizada por aquela decisão.

Professora titular de Bioquímica do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é coordenadora do Laboratório de Neuroproteção e Doenças Neurometabólicas que estuda a complexidade do cérebro, com ênfase na neuroproteção. No laboratório, investiga os fatores de risco para doenças neurodegenerativas, como doença de Alzheimer, psiquiátricas, isquemia cerebral e cardíaca.

No campo das doenças neurometabólicas e mecanismos neurobiológicos, um dos seus focos é a homocisteína como um fator de risco para doenças cerebrais e cardíacas, incluindo as neurodegenerativas, como doenças de Alzheimer e Parkinson. “Nossas pesquisas indicam que a homocisteína pode ser um fator de risco para essas e outras doenças, por aumentar as atividades de acetilcolinesterases [uma enzima que quebra a acetilcolina], diminuindo os níveis de acetilcolina [neurotransmissor que está envolvido diretamente nos processos motores, cognitivos e de memória]. Essas doenças geram a degradação de neurônios diminuindo a atuação da acetilcolina, que também é degradada pela ação de enzimas”, destaca a pesquisadora.

A metionina é um aminoácido essencial que não é produzido pelo corpo humano, mas importante para seu bom funcionamento. Encontrada em alimentos de origem animal, como laticínios, ovos e carnes, está envolvida em atividades como a síntese de proteínas e de DNA, necessária para o crescimento e funcionamento normal do organismo. No entanto, seu metabolismo sintetiza um segundo aminoácido, chamado homocisteína, que tem efeito tóxico.

“A partir de nossos estudos, outros pesquisadores, em colaboração com o nosso grupo de pesquisa, têm avaliado parâmetros bioquímicos em sangue de pacientes com homocistinúria similares aos utilizados nos testes com animais. Os mesmos trabalhos mostraram que alguns pacientes responderam positivamente ao tratamento com antioxidantes testados previamente nos nossos modelos”, pontua a pesquisadora.

Nessa mesma linha de pesquisa, estuda a menopausa. A interrupção reprodutiva da mulher, que a leva a viver mais de um terço de sua vida na condição de infertilidade, é conhecida como menopausa. Nesse período, segundo a Wyse, a redução na produção de hormônios provoca alterações celulares com implicações cerebrais importantes. Sua pesquisa indica que a mudança na bioenergética cerebral, das mulheres nessa fase, pode estar relacionado com o prejuízo na memória e a maior incidência de depressão e outras doenças cerebrais, como a doença de Alzheimer, em mulheres na menopausa.

Há mais de uma década seu grupo de pesquisa observa alterações bioquímicas e comportamentais em animais submetidos ao modelo experimental de menopausa, incluindo a indução do estresse oxidativo, mudanças nas atividades de enzimas (catalisadores biológicos de grande importância para as funções celulares), bem como déficits de memória. Além disso, seu grupo tem buscado novas estratégias de terapia que possam, no futuro, ser utilizadas como alternativas para amenizar os sintomas da menopausa e melhorar a qualidade de vida da mulher.

Seu trabalho é reconhecido por organizações nacionais e internacionais. Em 2018, recebeu o Prêmio Pesquisador Gaúcho, da Fapergs, o Prêmio Capes-Elsevier, em 2014. Além disso, no ano passado, recebeu o título de Cidadã da Câmara do Comércio de Rio Grande (RS). Wyne também é membro titular da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Mundial de Ciências (The World Academy of Sciences – TWAS), na área Médica e Ciências da Saúde (Neurociências) e faz parte da Secretaria Regional do Rio Grande do Sul da Sociedade Brasileira de Progresso da Ciência (SBPC).

Difusão da ciência nas escolas e na literatura

O trabalho da pesquisadora não se esgota nos muros da Universidade. Há alguns anos, depois de encontrar uma criança vendendo bala para sobreviver no semáforo ela decidiu fazer um projeto de difusão da ciência voltado para crianças e adolescentes. O projeto é desenvolvido há cinco anos para disseminação dos conhecimentos científicos a nível básico com o objetivo de estimular o estudo e o interesse pela carreira científica. “Sempre relacionamos conteúdos científicos com questões sociais. Por exemplo, fizemos uma aula sobre as moléculas do DNA e relacionamos como respeito pela diferença”, conta Wyne.

Por meio de oficinas, web-games, revistas em quadrinhos e atividades físicas os estudantes de ensino básico e médio de escolas públicas aprendem sobre ciência: “Os alunos de graduação e da pós adoram fazer parte do projeto, ter essa troca e ensinar. Esse diálogo entre a universidade e o ensino básico é muito importante. É cidadania. Não sei quem ganha mais, se são os alunos ou eu”, brinca.

Além de pesquisadora, Wyne tem uma alma de poeta, por isso também se dedica à literatura. Em 2016, publicou um livro de poesias intitulado “Neuropoesia” [Ed.Tomo Editorial], que mescla a neurociência com essa linguagem por meio de vários poemas e prosas sobre diferentes situações da vida. “Eu sempre gostei muito de poesia. A área acadêmica é muito técnica e pragmática e a poesia me ajuda porque me comove, me emociona. A poesia foi um presente que eu ganhei na vida, porque eu consigo colocar minha sensibilidade e transformar por meio dessa linguagem”, finaliza.

Angela Terezinha de Souza Wyse
UNIVERSIDADE DE DOUTORADO
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
ÁREA DE PESQUISA MAIS RELEVANTE
Bioquímica
TÍTULO DA PESQUISA
Reduction of Hippocampal Na+, K+-ATPase Activity in Rats Subjected to an Experimental Model of Depression
ONDE VIVE
Porto Alegre (RS)
O QUE NÃO PODE FALTAR NA CIÊNCIA BRASILEIRA?
Financiamento