Patricia Rieken Macedo Rocco

Patricia Rieken Macedo Rocco, a cientista que busca novos tratamentos para doenças respiratórias

Por Vitória Régia da Silva

“Tudo é mais complicado quando se é mulher [na pesquisa], não estamos em um ponto ideal ainda. No entanto, houve uma melhora e avanço no debate de gênero que precisamos reconhecer”, diz a pesquisadora

As pesquisas da médica carioca Patricia Rieken Macêdo Rocco marcam um antes e um depois no que diz respeito às doença respiratórias. A pesquisadora  que desenvolveu terapias que se relacionam ao tratamento da asma, enfisema e fibrose pulmonar tem como objetivo a melhor qualidade de vida dos pacientes com essas doenças. Sua pesquisa foi premiada com o II Prêmio Cientistas e Empreendedores do Ano do Instituto NanoCell em 2018 e Prêmio Amil de Medicina 2007.

“Nos últimos 15 anos tenho me dedicado a iniciar os estudos clínicos e incrementar cada vez mais a pesquisa pré-clínica em animais e clínica em pacientes com doenças respiratórias. Atuo como cientista para descobrir terapias que possam melhorar a vida das pessoas e como médica para aplicar isso no dia a dia”, disse Rocco.

Professora e chefe do Laboratório de Investigação Pulmonar do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ela atua principalmente em duas áreas da medicina: terapia com células-tronco [células com capacidade de autorrenovação e de diferenciação] e ventilação mecânica para pacientes com doenças respiratórias.

Com as células-tronco, trabalha há 15 anos, e desenvolveu uma terapia para pacientes com enfisema [tipo de doença pulmonar crônica que dificulta a circulação de ar para dentro e para fora dos pulmões] e asma que resultaram em estudos clínicos. No Brasil, a terapia celular ainda não é aprovada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), por isso ainda é considerada um tratamento experimental. Sendo assim, é necessária certificações da Anvisa e do CFM para cada estudo que é feito pela pesquisadora.

As primeiras fases do estudo apresentaram melhoras nos pacientes com enfisema. A terapia é realizada por meio do transplantes de células do próprio organismo, que são injetadas diretamente no local da lesão pulmonar. Como resultado, os pacientes diminuíram significamente o número de medicamentos que tinham que tomar. “Temos pacientes que estão há quatro/cinco anos apresentando melhoras e estão bem. Um desses pacientes que não respirava e não tinha dinheiro nem para comprar o oxigênio, depois da terapia já toma banho e caminha sozinho. Essas são atividades básicas, mas muitas pessoas com essas doenças não conseguem”, conta a pesquisadora. As causas para essas doenças são diversas. No caso da efisema, o tabagismo é a principal responsável. Enquanto da fibrose pulmonar, são modificações genéticas e causas diferentes de inalação e poluentes.  No momento, Rocco está desenvolvendo as fases 2 e 3 deste estudo.

O tratamento dessas doenças são caros, e essa é uma das maiores preocupações da cientista. Segundo ela, o custo de uma válvula pode chegar a R$20.000 o que prejudica os pacientes que não tem condições de pagar por isso. Com o apoio do Ministério da Saúde para as pesquisas em andamento sobre células tronco, o tratamento da sua pesquisa pode ser oferecida gratuitamente aos pacientes. “O que estamos tentando é modificar um pouco esse cenário em que essas terapias não são acessíveis. Temos diversas linhas de pesquisa aqui no laboratório para tentarmos desmistificar essas terapias para que isso mude. O mais importante é a qualidade de vida do paciente”.

Em sua outra linha de pesquisa, ventilação respiratória, ela busca avanços na forma de ventilar os pacientes que vão para a CTI e que precisam ser entubados. Existe a necessidade de um ventilador mecânico, sob o risco de uma ventilação incorreta levar à piora do quadro clínico.

A atuação de Rocco extrapola a universidade e as fronteiras nacionais. A pesquisadora é vice-presidente da Sociedade Internacional de Terapia Celular e Genética, sociedade global e uma referência em pesquisa científica e tratamentos inovadores para os pacientes. É também vice-presidente da Sociedade Brasileira de Fisiologia e membro titular das Academias Brasileira de Ciências e Academia Nacional de Medicina.

Na Academia de Medicina, ela é uma das 5 mulheres dentre as 100 cadeiras.“É uma grande honra, mas também mostra as dificuldades de ser mulher na ciência brasileira. Eu me tornei membro em 2012, na época, antes de ter cinquenta anos, e foi um grande desafio porque tinham poucas mulheres e pessoas jovens no espaço. Apesar de sermos minorias, fui bem acolhida”, destaca a cientista. A instituição bicentenária promove a pesquisa e estudo da medicina, por meio de publicação de trabalhos científicos, simpósios e aconselhamento de questões relacionadas a saúde pública e educação médica ao Governo.

O número reduzido de mulheres em espaços de gestão e discussão estratégica sobre a grande área da Medicina ainda é algo a ser superado. “É claro que não é fácil, tudo é mais complicado quando se é mulher [na pesquisa], não estamos em um ponto ideal ainda. No entanto, houve uma melhora e avanço no debate de gênero que precisamos reconhecer”, avalia. “Quando comecei a trabalhar como docente, tive acesso a uma licença-maternidade de apenas quatro meses, por exemplo”, pontua. Rocco destaca a necessidade de mudanças cultural e social para a transformação dessa realidade.

A médica destaca que ao longo da carreira várias mulheres a influenciaram e a ajudaram a lidar com os obstáculos de gênero na ciência, o que foi importante para sua permanência nesse espaço.“Eu entendi com elas que a mulher para fazer ciência não precisa deixar de construir uma família ou abdicar da vida pessoal, temos o direito de querer ou não ter tudo.”

Patricia Rieken Macedo Rocco
UNIVERSIDADE DE DOUTORADO
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
ÁREA DE PESQUISA MAIS RELEVANTE
Fisiologia
TÍTULO DA PESQUISA
Lung Tissue Mechanics and Extracellular Matrix Remodeling in Acute Lung Injury
ONDE VIVE
Rio de Janeiro (RJ)
O QUE NÃO PODE FALTAR NA CIÊNCIA BRASILEIRA?
Infraestrutura. “Não tem como fazer pesquisa sem um mínimo de infraestrutura”.